Poema da crucificação
Agora entendo, Senhor,
a imensa e eterna solidão
de quem está preso
à árvore da desolação.
Agora entendo
o terror dos pregos
fixando os teus pés
de andarilho,
o terror dos pregos
lancinando a carne.
Agora entendo o ultraje
de cobrirem tua nudez
com um manto escarlate,
ornamento e cor
privativos dos césares
nas reuniões solenes.
Agora entendo
a humilhação, a dor
dos espinhos ferindo
tua fronte
que não faz sete dias
quiseram coroar.
Agora entendo
tua imensa angústia:
os olhos contemplando os sonhos
que tuas mãos dilaceradas
procuraram semear.
Só agora entendo
teu imenso abandono:
os olhos buscando os lugares
onde a Palavra foi um dia ouvida,
onde tua Palavra amiga
foi consolo dos que choram,
dos que têm sede de justiça.
Talis Andrade