O mais ilustre transmontano

Há gente ilustre,
Aos montes,
Lá na minha terra de Trás-os-Montes.
Há-os Doutores, Médicos e Legistas,
Professores, Mentores, Catedráticos e Juristas,
Empresários, Engenheiros, Poetas, Padres, Romancistas,
Artesãos que modelam pensamento e arte com as mãos.

Também há Generais,
E mais, muitos mais,
Cujos nomes são atracção
Nas enciclopédias, nos dicionários
E nos anais
Da Nação.

Mas o Transmontano mais nobre
Não tem nome, porque é pobre,
Porque mistura as mãos, a carne,
O sangue, a alma, o ser, à agua, ao ar, à terra
Que o fez nascer;
Que devolve à terra, graciosamente,
Os filhos que gerou com dor
E amor no ventre.

O mais ilustre transmontano
Não vem nos anuais, Diários, Semanários,
Nem telejornais.
É conhecido, Ignorado,
Por vezes, vaiado,
Porque a sua esperança
Não vai muito para lá
Do horizonte
Que o seu olhar alcança.

O mais ilustre transmontano
Finca os pés no torrão agreste recusando a Tentação do ir,
Junta o dia a- noite, a noite ao dia
E faz da sua vida,
Sem hesitação,
Uma oblação continua de dor e agonia.

E grita,
Grita que fica,
Agarrado,
Alapado as raízes da sua terra.

E jura,
Jura, por Deus,
Sobre a campa dos seus,
Que não vai embora
Por esse mundo fora,

Que não desiste,
Que resiste,
Porque sabe que é graças a ele
Que Trás-os-Montes existe.

Armando Jorge e Silva